23 janeiro 2006

A distância necessária dos mitos

Por Olvídio Mor Horelhãns

Uma das cenas mais tocantes que já presenciei em minha vida: Olvídio Mor Horelhãns às lágrimas – muitas, muitas lágrimas –, redigindo um texto. Incrível seu profissionalismo. Ele acabara de cobrir a prisão de uma das figuras mais conhecidas em todo o mundo, que representa a esperança de dias melhores, de carinho, de paz, de harmonia, de amor. E o título da matéria era bombástico: “Polícia prende Papai Noel”.

Foi realmente chocante ver o esforço do repórter em se distanciar do fato. E do mito. “Eu sempre acreditei no Papai Noel”, dizia, em meio a soluços e lenços descartáveis. Em sua mesa há inclusive uma foto dele com o Bom Velhinho, autografada. Para Horelhãns, um inveterado idealista, Papel Noel era a síntese da esperança em dias melhores, de carinho, de paz, de harmonia, de amor.

Eis uma situação que escola nenhuma do mundo ensina: como manter o equilíbrio diante de fatos que envolvem o seu ídolo. Somente o dia-a-dia pode medir quem está apto a não embasbacar ao se deparar com uma personalidade que marcou algum momento de sua vida. O jornalismo propicia isso a seus profissionais: o contato com pessoas que ele, o jornalista, nunca teria caso exercesse outra profissão. E, às vezes, a situação não é da melhores.

O trabalho saiu a contendo. Algo natural em se tratando do melhor jornalista do Brasil, do mundo e de Santo André e região. Desnecessário dizer que o texto está perfeito; a narrativa, com recorrente beleza; a apresentação das informações, um primor; e a utilização e a seleção de documentos para sustentar a matéria, impecáveis. Todos os profissionais d’A Primeira Vítima devem se orgulhar de ter um colega como Horelhãns. Eu, particularmente, pago o maior pau pro trabalho dele.

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