24 fevereiro 2006

Jornalismo crítico, uma grande canção e sonhos de infância

Por Olvídio Mor Horelhãns

A matéria “Astronauta brasileiro é barrado em alfândega espacial com muamba” marca a volta do excelente repórter – líder em atestados médicos para dispensa do trabalho – John Renner. O destaque do texto está na sua postura: jornalismo crítico, sem dó nem piedade.

Enquanto os demais veículos cobrem alegremente a ida do brasileiro para o espaço (como se isso fosse alguma novidade; já estamos em órbita faz tempo), a reportagem de A Primeira Vítima vai além. Mostra o flagrante despreparo do astronauta nacional Parcos Fontes.

Francamente, o sujeito passa por fortes treinamentos, supera diversas pressões, alcança o posto de primeiro astronauta brasileiro e leva consigo na viagem de estréia um DVD Jino e Geno. Fontes quer o quê? Criar um incidente diplomático ou ser arremessado do foguete em pleno vôo?

A iniciativa de Parcos Fontes também prejudicou o programa nacional de elevação dos “juros e dívida interna em níveis mais do que estratosféricos”, cujas experiências continuarão em Brasília, como registra a matéria. Uma decepção nacional.

O texto de John Renner mexe com todos os sentidos do leitor. No meu caso, por exemplo, a narrativa me fez lembrar o estrondoso sucesso musical “Um lindo talão azul”, de um dos maiores grupos musicais do Brasil de todos os tempos, A Turma do Balão Letárgico.

Várias estrofes da musiquinha iniciam-se com o seguinte verso: “Eu vivo sempre no mundo da lua”. Lembra? E mais: “Pegar carona nessa cauda de cometa / Ver a Via Láctea estrada tão bonita / Brincar de esconde esconde numa nebulosa (sempre achei essa parte muito fálica) / Voltar pra casa nosso lindo talão azul”. E por aí vai. (Viu como essa musiquinha impregna na mente, tipo a do Eimael.) Fala a verdade: é o “melô” do astronauta brasileiro.

Lembrei-me também da minha infância, mais exatamente das festinhas de aniversários onde pulava como um idiota ao lado de outras crianças igualmente idiotas ao som de “Um lindo talão azul”. À época, a canção me despertou um sonho: ser astronauta. Mas não foi possível; quando se nasce com o dom para o jornalismo é inevitável fugir ao seu destino. Por isso, não me conformo com um brazuca que chega lá e pisa na bola.

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